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Observação Concreta: a fina arte de evitar críticas e julgamentos precipitados | CNV (2)

Atualizado: 29 de ago. de 2020

Observar e compreender o comportamento do outro, sem julgar, melhora o relacionamento entre as pessoas. Saiba como usar a observação concreta para evitar julgamentos e gerar conexão em sua comunicação.

 

A Comunicação Não-Violenta é baseada na conexão empática, que abre espaço para que todos os envolvidos se sintam bem em contribuir com o enriquecimento da vida uns dos outros.


Para implementar a CNV (Comunicação Não-Violenta) nas nossas vidas é preciso falar com o coração, assim percebemos que nossos conceitos não são os únicos aceitáveis ou 100% corretos. A opinião do outro importa e devemos aprender a utilizar as palavras para mostrar o que o coração grita, mas a mente bloqueia.


Quando falamos e não somos escutados e atendidos, é porque, provavelmente, não houve conexão. Ou seja, as falas foram jogadas contra a parede. Não estou falando que você precise se tornar o melhor amigo de alguém, ou pertencer ao mesmo círculo familiar para que se possa criar uma conexão.


Um exemplo: por meio da internet você se conecta com inúmeros sites que nunca acessou antes, certo? Pois bem, com a CNV é parecido. É possível criar conexões com pessoas que você nunca viu.


Deixar de lado certos preconceitos não é deixar de ser quem você é. É entender que ao esvaziar a mente é possível adquirir novos conhecimentos que poderão contribuir com toda sua bagagem intelectual e cultural. A medida que vamos aprendendo, podemos ser críticos de nós mesmos e nos desvestir do que, agora, mediante um novo ponto de vista, achamos que não cabe mais ter dentro de nós.


OBSERVAÇÃO - o primeiro passo da CNV


Como falei no artigo anterior, a Comunicação Não-Violenta é composta por quatro componentes que são peças chave para entendermos a linguagem do amor e poder nos comunicar abertamente criando conexões.


A OBSERVAÇÃO é a capacidade de observar sem avaliar, sem julgamentos ou preconceitos, simplesmente escutar e/ou ver o comportamento do outro ou observar o acontecido, sem criar uma avaliação ou imagem daquela situação.


Quando observamos já fazendo uma avaliação ou classificando a outra pessoa é como se criássemos um bloqueio que dificulta a conexão.


Quando você faz uma observação, como por exemplo, “A toalha está no chão de novo!”, “Você não fez a atividade como sempre!” ou “A gente nunca conversa”, a conexão se torna difícil, pois essas frases disparam sensações desagradáveis em quem as ouve e, automaticamente, essa pessoa se coloca na defensiva e começa a procurar respostas para se justificar, pois a observação é vista como uma crítica.


Comumente é assim que estamos acostumados a falar, verdade? Aprendemos desde pequenos a ir “direto ao ponto”, muitas vezes sem sequer realmente pensar e analisar o que sai da nossa boca.


Também estamos acostumados a fazer diagnósticos acreditando que somos os donos do saber e que conhecemos realmente o outro, quando na verdade o que sobressai é o julgamento. Isso acontece quando vemos nossas conclusões antes do que realmente está à nossa frente e não vamos além, ou seja, fazemos rapidamente suposições baseadas em nossas crenças e assumimos estas suposições como verdade.


Exemplos:

“Você não sabe de nada”; “Não dá para contar com você”; “Já devia saber disso”; “Esse teu trabalho só atrapalha a gente!”...


Esses tipos de diagnósticos que fazemos continuamente não expressam realmente o que sentimos e fazem com que o clima fique tenso entre as pessoas envolvidas. Quem ouve, certamente não dará ouvidos porque se sentirá ferido e ficará pensando em respostas para se defender ou em formas de devolver o julgamento apontando algo que vê como “errado” em você também.


SEM JULGAMENTOS


O filósofo Jiddu Krishnamurti, dizia que, “A forma mais elevada da inteligência humana é a capacidade de observar sem julgar”.


Mas, como fazemos isso? Deixando os nossos preconceitos de lado para que possamos conhecer realmente a outra pessoa, entender seu ponto de vista. Devemos compreender que somos todos seres humanos em constante evolução, por isso estamos sempre mudando e melhorando. Não podemos catalogar a pessoa por um feito anterior que não nos agradou.


Julgar o outro, fazer uma observação associada ou dar um diagnóstico baseado num achismo acontece na maioria das vezes e nem percebemos.


Antes de ler este artigo você já fez algum diagnóstico sobre ele, tenho certeza!


“Será que é bom?”; “Ah! Não tenho tempo para esses artigos longos...”


O nosso cérebro automaticamente faz uma “classificação” quando se vê sob a presença de algo desconhecido, sobre o que não entende. Na Comunicação Não-Violenta é preciso deixar essas observações associadas de lado. Não se trata de mentir, mas se permitir fazer um exame sem julgamento, pois quando observamos e já damos um diagnóstico o outro pode receber a mensagem em forma de crítica e se limita o processo de comunicação. Quando alguém sente que está encurralado a resposta não é pacífica.


SITUAÇÕES EM CASA


Pai, quando seu filho, por exemplo, tira uma nota baixa na escola, seu pensamento é que ele não estudou corretamente por estar fazendo outra coisa que não era tão importante, ou simplesmente por preguiça, certo? Rapidamente você enfrenta seu filho aplicando-lhe uma punição ou dizendo de forma objetiva como você se sente em relação a isso.


O que seu filho ouve é que ele é um preguiçoso, que não valoriza o esforço dos pais e que não é nada mais do que a obrigação dele ir bem na escola. Isso o deixa com diversos sentimentos e talvez ele não entenda a mensagem e por isso vem a revolta.

Uma comunicação sem julgamentos é entender realmente o porquê de ele ter tirado essa nota baixa ou não estar tendo um bom rendimento. O universo de coisas que pode haver por trás disso talvez seja imenso e você, pai, só poderá auxiliar seu filho se tentar entender o X da questão e não fazer um diagnóstico precipitado.


Ao invés de limitar a comunicação com seu filho tente se conectar com ele para que ele possa sentir a confiança e se abrir com você!


O mesmo serve para qualquer outra pessoa. Quando alguém se sente ofendido ou agredido se cria uma barreira em que a comunicação não acontece. O que surge é um diálogo vazio, ofensas provenientes de ambas as partes e não se tem uma harmonia, uma conexão.


UM EXEMPLO REAL


Há uns anos atrás, meu irmão mais novo e eu tivemos que sair do nosso país de origem – Venezuela - para vir morar aqui no Brasil com meus pais. Meu irmão não se adaptou muito bem e isso era bem visível. Não sentia vontade de trabalhar, não se interessava muito pela faculdade e se tornou uma pessoa calada e introspectiva.


Meus pais sem entender ao certo essa mudança, acreditavam que era “birra” ou falta de responsabilidade, pois sempre teve tudo na mão. Ele começou a ouvir coisas do tipo “Não valoriza o que tem”, “é um preguiçoso”, “não faz nada”, “papai dá tudo e não valoriza”. Esses tipos de observações fizeram com que ele as trouxesse para si e realmente acreditasse que ele “não servia para muita coisa”. Ele estacionou no tempo até que o momento se tornou mais crítico e meus pais decidiram tentar outra abordagem.


Sentaram e olharam realmente o meu irmão, tiveram uma longa conversa e escutaram como ele se sentia, não houve julgamentos, suposições ou falas já prontas.


Em resumo, meu irmão não queria estar no Brasil e só continuava para não deixar meus pais. Todos entendemos que cada um tem que seguir seu caminho e fazer o que gosta. Meus pais entenderam melhor meu irmão e acreditaram em tudo que lhe ensinaram. Hoje ele mora na Venezuela e está tocando seu negócio junto com a companheira e já não é aquela pessoa introvertida e apagada.


As vezes vemos famílias se desestruturando porque o que fala são os diagnósticos carregados de críticas ou julgamentos. Por isso a importância da CNV nas nossas vidas.

Acredito que o mundo seria bem melhor se todos tivéssemos uma comunicação mais conectada. Os atritos surgem quando as partes não se entendem.


EXEMPLOS DE DIAGNÓSTICOS E OBSERVAÇÕES


Diagnóstico com avaliação associada:Sempre é assim, você nunca faz o que eu te peço!”


Observação concreta: “Observo que quando te peço para me auxiliar com as tarefas de casa não estou sendo atendida”.


Percebeu a diferença? Quando se faz uma avaliação geralmente usamos palavras curtas por achar que o outro irá entender. Mas, quando explicamos realmente sobre o que nos incomoda, quem nos ouve pode entender melhor.


Outro exemplo de diagnóstico com avaliação associada, pode ser “Não vou te chamar mais! você não está nem aí!”


Ao invés disso, você pode falar: “Das três vezes que te chamei para sair você não me deu resposta, gostaria de saber o porquê”.


Quando observamos e rapidamente julgamos estamos limitando o nossa capacidade de nos expressar e realmente sermos atendidos. Quando o outro não percebe o porquê do seu desgosto é difícil que seu pedido seja atendido.


Para sermos escutados devemos nos abrir e falar com o coração. Não se trata de ser rude ou de implementar palavras que diminuam o outro, mas realmente mostrar como estamos nos sentindo por meio das palavras. Sermos sinceros com nós mesmos e com os outros para que assim sejamos entendidos e atendidos.


Se trata de desarmar o coração para dar lugar ao sentimento. O SENTIMENTO é um fator importante na Comunicação Não-Violenta porque geralmente costumamos criar camadas ao redor do nosso coração para não mostrar o que sentimos.


Na CNV o sentimento é o segundo componente descrito por Marshall Rosenberg e será o assunto do nosso próximo artigo.


Meu conselho é que você comece a observar tudo ao seu redor, desde os objetos inanimados, a natureza, os animais e as pessoas com outro olhar, uma visão observadora sem julgamentos.


Olhe tudo, cada situação vivida e tente fazer uma observação sem avaliação. Utilizar todo seu vocabulário, ser cuidadoso com as palavras para assim começar a praticar a CNV.


No artigo da semana passada eu comecei a introduzir a CNV como um tipo de comunicação para gerar conexão com as pessoas.


Se não leu esse conteúdo. Você pode acessá-lo clicando AQUI.


O artigo da semana que vem terá como foco o SENTIMENTO! Chorar faz bem, viu? O que não faz é se afogar nas lágrimas ou oprimir seus sentimentos e desejos!


Te espero ansiosamente para esse nosso próximo encontro. Até logo!


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